Friday, June 27, 2008

© Luz da Camara & Rui Chaves

uma pessoa lê uma frase
gosta
acha que está bem esgalhada
usa-a para enfeitar um projecto
começa a dar sentido a uma série de coisas
é divertido
depois esquece-a
e quando se dá conta, a frase tomou conta dela
tudo que faz, tudo que pensa, tudo....
está irremediavelmente contaminado pela frase

Cada objecto é uma descoberta, uma rede
que nos liga a outras texturas, histórias de um lugar, cores, sons

entro no espaço
Não, não, nós é que vamos arrumar!
É que se tivéssemos as ferramentas certas, isto ia mais depressa...

mas não tínhamos
as cores, as texturas, as repetições,
os tesouros que não procuro, que se impõem

Parto para um (des)tecer desses objectos,
desses materiais e a cada momento descubro no espaço algo...

tento captar a atenção de X....
que se diverte no seu mundo
atiro uma pedra pelo chão
mas a pedra começa a rolar na vertical
X... fica fascinado e segue a pedra até parar
até mesmo o eco parar
os dois espantados
e encontro algo mais

Uma viagem, uma camada escondida, uma nova perspectiva,
são essas coisas que enchem a minha vida de riqueza,
é essa multiplicidade, é a aventura...

olha lá a frase...

Volto a brincar, a encontrar histórias cada vez que percorro um lugar
e quando volto para casa, volto também para um novo espaço.

e assim fui errando
sem procurar, sem impor
usando
(des)tecendo
finalmente!
„Methode dieser Arbeit: literarische Montage. Ich habe nichts zu sagen. Nur zu zeigen. Ich werde nichts Wertvolles entwenden und mir keine geistvollen Formulierungen aneignen. Aber die Lumpen, den Abfall: die will ich nicht inventarisieren sondern sie auf die einzig mögliche Weise zu ihrem Rechte kommen lassen: sie verwenden.”
Walter Benjamin, Das Passagen-Werk, Erster Band, Frankfurt/M. 1983